quarta freak

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Não preparei meu espírito para esta quarta-feira. Já mencionei em outro post a relação tortuosa que tenho com as quartas: a única coisa que salva a srta. insossa é o futebol. Bem, o jogo ainda está rolando (43:37), 2 x 0 para o Deportes Deportivo Tolima e o Corinthians acabou de “perder” um jogador porque o Sr. Ramirez não consegui ficar um maldito minuto em campo.

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Não sei se o ano será um fiasco para o – atualmente – nada Poderoso Timão, mas o que se anuncia não é nada bom. Em termos de qualidade técnica o time está uma verdadeira piada (a exceção fica por conta do goleiro Júlio César, ando irritada até com o Jucilei e Jorge Henrique, meus diletos). Veremos o que acontecerá no domingo (brrr Palmeiras brrr). Fingers crossed!

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Pulando do futebol para outros assuntos: LITERATURA, daquele tipo que você não precisa fichar (aleluia irmão!), no máximo anotar uma passagem interessante. Hm, mentira! Terminei de ler “Só Garotos” (Just Kids) da roqueira-poetisa-musa mais adorada desta escriba: PATTI SMITH. Agora sou obrigada a adicionar outro título: prosadora/novelista/romancista, enfim como preferirem, desde que a menção tenha o signo de fabulosa ou fantástica (talvez os dois seja mais justo).

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Patti Smith & Eu – Primeiro encontro:

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Quando ouvi “Easter” pela primeira vez… Não, minha iniciação não foi ouvindo, foi vendo a capa do álbum:

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Eu tinha uns 14, 15 anos e fiquei intrigada por aquela mulher desgrenhada e com as axilas nada depiladas. O inverso de como a imagem feminina (ainda) é vendida, promovida. A capa falou pra mim: “eu sou completa, eu sou livre e não há nada de errado nisso, não pedirei desculpas por ser eu mesma” (alguma lembrança de “Jesus died for somebody’s sins but not mine“?).

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Peguei o álbum e escolhi pra começar Rock n’ roll nigger. Violenta, crua, doída, ácida. Eu fiquei apaixonada instantaneamente (existe outro tipo de paixão?). E a primeira impressão que tenho dela tem as mesmas qualidades da música: violenta, crua, doída, ácida.

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Quando vi que sairia “Só garotos” imaginei uma auto-biografia da mesma monta. Não, nada disso: eu li vi uma Patti muito maior. A ideia que eu fazia dela foi transmutada, pra dizer o mínimo. Eu vi uma mulher terna, encantada pelo mundo das artes (as que existem e as que ela sonhou e ainda sonha) e, especialmente, encantadora. Ao ler parecia que ela estava ao meu lado contando a estória da sua vida, todos os desejos e anseios: A fuga para algo além do universo quase rural que ela vivia para a cintilante Nova York. Sem grana, sozinha e sem ter a menor ideia de como se ajeitar. Apesar do cenário desolador ela não se abate e pelas mãos da fortuna encontrou um amor para toda vida: Robert Mapplethorpe. A maneira como os dois se apoiam e se unem para transformar a própria existência em arte é algo único. A narrativa é tocante, Patti está lá, toda exposta para nós contando o que é amar outra pessoa (e amar o processo de criação do outro como seu).

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Fui passar dois dias em sampa, comprei o livro segunda-feira à noite. Folheei para ver as fotos de Robert e de sua musa e alucinei pela capa, o mundo www não possibilita a compreensão de como ela consegue ser fosca e, ao mesmo tempo, brilhante (nos dois sentidos). Majestosa e delicada. Tem que ter o livro em mãos para saber do que estou falando (minha paixão por livros não é “somente” pelo conteúdo).

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Terça-feira voltando pro meu mundo caipira ganhei quatro horas para devorar um pedaço do livro. Normalmente fico enjoada quando leio no ônibus, desta vez meu enjôo só principiou quando desci na parada pra tomar um café.

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Eu quis fazer anotações de inúmeras passagens, mas são tantas e tão incríveis! No meio do livro decidi que precisaria relê-lo com mais tranquilidade (ou menos fome de Patti). Estou com vontade de fazer uma playlist das pessoas musicais que ela cita no livro e usá-la como trilha sonora para a viagem que “Só Garotos” é. Tim Hardim, por exemplo, só fui descobrir e me deliciar no ano passado…! O livro é repleto de referências (muitas ainda desconhecidas).

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ps 1 – quem quiser se encontrar com a Patti terá um aprendizado além da estética familiar que o nome dela evoca (música, poesia, prosa, artes gráficas etc.)…  É algo transcendental. Kant não nos diz que a estética transcendental é uma ciência que agrupa todos os princípios da sensibilidade (ou algo assim? Filosofia nunca esteve perto de ser a minha praia). Acho que a Patti Smith é um pedaço disso e talvez um pouco mais…

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ps 2 – não se perca em certas “ilusões”: o livro é sobre os anos de formação dela e de Robert Mapplethorpe como artistas (no sentido mais lato do termo), isto é, os anos da juventude… Embora a fama ainda não esteja presente na vida do casal é possível observar incontáveis ícones da música, literatura e artes plásticas passando por eles (veja aqui um exemplo). Hey, Chelsea Hotel, diz algo a você? O mundo aconteceu por lá.  Lembra da música? A geração dos anos 60 para 70 teve que passar por lá.

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ps 2.1 – a fase posterior (de ambos) já foi mais do que escrutinada, não? Ou seja, não espere por algo parecido com o livro de Keith Richards (pode ser muito interessante, como a crítica especializada vem apregoando, mas os trechos que vi até agora remetem a um catálogo de fofocas, nada contra. Todavia, não pago para saber o tamanho do “pacote” de Mr. Jagger).

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ps 3 – para os aventureiros outra coisa a ser dita, eu os desafio a não se arrepiarem quando ela conta sobre o primeiro show “de verdade” que ela fez (tem a presença  de… Mr. Maior Poeta Americano do Século XX).

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ps 4 – a figura com as mãos no início deste post? ah, inspirada nos processos de transformação e desconstrução (êta Derrida!), de Robert como artista, eu quis apontar minha “nervosidade” relacionada ao futebol fragmentando um trabalho dele (a visão dele do alfabeto surdo-mudo), você consegue imaginar o que está escrito? Algumas “letras” não correspondem exatamente ao supracitado alfabeto.

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